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sábado, fevereiro 11, 2006

::::Fingindo::::


"Disse, fingindo, que a minha poesia
É prosa cortada aos pedaços.
E fiz o gesto do cutelo, gargalhando.
Acrescentei que tiro um verbo
Aqui, e uma preposição ali,
Para deixar o texto destrambelhado,
Inteligente. Soltando risadas alegres,
Coloco um título, e assim
É que escrevo a minha poesia.
Terminei e desliguei, pensando:
Fernando Pessoa é que sabia.
Os versos perseguem-me todo o dia -
“O poeta é um fingidor.
“Finge tão completamente…”
Procuro este caderno âncora
Onde deposito desabafos incoerentes,
Que finjo serem fingidos, e são,
Pois não desvendam nem espelham
A infinitésima parte do furacão
Que me percorre, abala e arrasa,
E verto em homeopáticas doses
Nestes poemas delicados, polidos,
Dilacerados nos cortes que faço,
Rindo, sorrindo, fingindo
Que finjo..."

Ilona Bastos