Hoje...Não Comprei o Jornal!

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Dia de S. Valentim


Foto de Paulo Cesar

Hoje é dia de S. Valentim... Parece que é aquele dia em que o cupido anda aí feito tonto e não tem mãos a medir!
Por norma não gosto de dias festivos!
O Natal comemora-se porque nasceu Jesus... afinal todos sabemos que ele não nasceu no dia 25 de Dezembro...
A Passagem de Ano comemora-se como um marco... afinal não marca nada, apenas mais um dia.
Na Páscoa comemora-se a ressureição de Cristo... ainda não sei se acredito na ressureição!
Não vamos falar do Carnaval... por favor! Aí comemoramos o facto de sermos uma personagem diferente? Afinal... quem não o é durante quase todo o ano?

Enfim.. o Dia da Mulher... uma perfeita discriminação!
O Dia da Mãe e do Pai... não havia necessidade... se todos se lembrassem deles durante o ano.

Depois vem esta tradição do S. Valentim.... ainda bem que não comemoramos o Stº António casamenteiro... e por ai além.
A azáfama é grande... presentes ( aquelas lojas bastante "foleiras" com montes de corações), restaurantes (todos cheios e a servir pessimamente mal).
Por isso ao contrário da maioria das mulheres, hoje não comprei presente, não dediquei um belo poema, não fui jantar fora.... Tenho o ano inteiro para fazer tudo isso, com mais qualidade!

Assim, como é habito colocar aqui poemas de amor... hoje por ser dia de S. Valentim... rendo-me e também faço algo diferente;

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor, já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse:
as palavras estão gastas.
Adeus. "

Eugénio de Andrade

Vamos esperar que o cupido não se entretenha e entusiasme nesta noite e amanhã se esqueça das suas obrigações!