Intervalo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?
Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?
Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?
Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?
Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca."
Fernando Pessoa
1 Comments:
Não é esse o meu objectivo!Até porque adoro passar tempo nas livrarias! Principalmente quando ando sozinha. A complexidade da escrita já não é minha... é dele.. o nosso grande Fernando Pessoa...
Mas, se reparares bem, não é assim tão complexa...digamos que é mais subjectiva que complexa.
Escrevo apenas o que gosto... o que me vai na alma...
Mas ainda bem que agrado nas escolhas!
Obrigado ;)
By Carla Ferreira, at 6:57 da tarde, novembro 16, 2005
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