"O caso deles estava naquele chove-não-molha que se segue ao fogo quase extinto das paixões. É verdade que a índiazinha continuava tão carinhosa e meiga como antes. Contudo, já não corria para ele quando chegava; não lhe assanhava a barba ou os cabelos; não lhe montava na barriga nem torcia os bigodes. Em suma, tinha-se tornado mais madura, mais comedida e previsível. E a previsibilidade, toda a gente sabe, tira o sabor de qualquer paixão.
E que não venham confundir amor com paixão. Paixão é como essas ervas do campo, que explodem em flor em épocas sazonais. Pela vitalidade e variação de tons, tornam-se inebriantes. Pena que definham e morrem à primeira estiagem. O amor não. O amor é como uma árvore frondosa, de semente difícil de vingar. Cresce aos poucos, mas com raízes profundas. E tão fundo vão as raízes que, ainda que a parte visível seja abatida, costuma voltar a brotar.
Não é caso para dizer que o amor seja bom e a paixão seja má. No jardim do bem querer, os dois sentimentos são igualmente bem vindos. Não raro, conseguem até complementar-se. A diferença é que o amor, a exemplo da árvore frondosa, é muitíssimo mais forte. Dura muito mais."
Ayano Roriz in " O Fundador"
Um livro a não perder para os amantes de história e em simultâneo do Brasil.
A descrição do trabalho levado a cabo por Tomé de Sousa na construção da cidade de Salvador da Bahia... as suas aventuras, os seus romances e acima de tudo a descrição de uma época e de culturas diferentes.
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