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domingo, janeiro 08, 2006

LIBERDADE SOFRIDA


Foto de Erik Reis

"Em tempos pensei que tinha sido ferido como homem algum jamais o fora. Por sentir isso, jurei escrever este livro. Mas muito antes de começar a escrevê-lo a ferida cicatrizou. Como jurara cumprir a minha tarefa, reabri a horrível ferida.
Deixem-me explicar por outras palavras.
Talvez ao abrir a ferida, a minha própria ferida, tenha fechado outras feridas, feridas de outras pessoas.
Morre qualquer coisa, floresce qualquer coisa.
Sofrer na ignorância é horrível.
Sofrer deliberadamente, para compreender a natureza do sofrimento e aboli-lo para sempre, é muito diferente.
O Buda, como sabemos, teve toda a vida um pensamento fixo no espírito: eliminar o sofrimento humano.

Sofrer é desnecessário. Mas temos de sofrer para compreender que é assim.
Além disso, é só então que o verdadeiro significado do sofrimento humano se torna claro.
No derradeiro momento desesperado - quando não podemos sofrer mais! - acontece qualquer coisa que tem a natureza de um milagre.
A grande ferida aberta pela qual se escoava o sangue da vida fecha-se, o organismo desabrocha como uma rosa.
Somos «livres», finalmente (...).
Não são as lágrimas que mantêm viva a árvore da vida, mas sim o conhecimento de que a liberdade é real e eterna."

Henry Miller, in 'Plexus'